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Bons estudos!
A intervenção psicopedagógica em relação à surdez é um campo de estudo e prática que visa avaliar, diagnosticar e tratar as dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento de crianças e adultos surdos ou com perda auditiva.
Esse tema tem sua origem na necessidade de compreender e atender às necessidades específicas desses indivíduos no contexto educacional e psicopedagógico.
A surdez é uma condição que pode ter um impacto significativo na aquisição da linguagem, comunicação, desenvolvimento cognitivo e, consequentemente, no processo de aprendizagem. Portanto, a intervenção psicopedagógica é fundamental para ajudar pessoas surdas a superarem essas barreiras e alcançarem seu potencial máximo.
A história da intervenção psicopedagógica relacionada à surdez remonta a várias décadas e tem evoluído ao longo do tempo. Isso inclui marcos como o desenvolvimento das línguas de sinais, a criação de escolas para surdos, avanços em tecnologia auditiva e pesquisa em psicopedagogia. Hoje, essa intervenção é uma área interdisciplinar que envolve profissionais de diferentes campos, como psicopedagogia, fonoaudiologia, psicologia e pedagogia, que trabalham juntos para avaliar as necessidades individuais dos alunos surdos, desenvolver estratégias de ensino personalizadas e apoiar seu desenvolvimento global.
O objetivo final é garantir que as pessoas surdas tenham acesso a uma educação de qualidade que leve em consideração suas necessidades específicas, promovendo assim a inclusão e igualdade de oportunidades no processo educacional e na sociedade em geral.
E como sempre, deixaremos o conteúdo bem mastigadinho, ilustrado e cheio de exemplos práticos para você!
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Preparados? Pois estão, vamos começar!
A abordagem histórica da Psicopedagogia revela uma evolução gradual ao longo do tempo.
Esta disciplina multidisciplinar, que combina princípios da Psicologia e Pedagogia, concentra-se no estudo e intervenção nas dificuldades de aprendizagem. Sua trajetória é marcada por influências e momentos-chave que moldaram sua identidade ao longo das décadas.
Os primórdios da Psicopedagogia remontam ao início do século XX, quando começou a surgir como uma resposta às crescentes preocupações sobre o desenvolvimento infantil e o processo de aprendizagem. Nesse período, influências da Psicologia da Educação e da Psicanálise desempenharam um papel significativo em sua formação.
Inicialmente, a abordagem psicopedagógica estava fortemente focada na avaliação de crianças com dificuldades de aprendizagem, buscando entender as causas subjacentes a essas dificuldades. A ênfase estava em identificar os fatores cognitivos que poderiam estar afetando o desempenho escolar. No entanto, essa abordagem era frequentemente limitada a uma visão reducionista do processo de aprendizagem.
Conforme a Psicopedagogia avançava, passou a adotar uma perspectiva mais abrangente e holística. Os profissionais começaram a considerar não apenas os aspectos cognitivos, mas também os emocionais, sociais e contextuais que podem influenciar o processo de aprendizagem de um indivíduo. Isso representou uma mudança significativa na forma como a Psicopedagogia encarava a complexidade da aprendizagem humana.
Um período crucial na história da Psicopedagogia ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, quando houve um aumento substancial no interesse por essa disciplina. A necessidade de identificar e intervir precocemente em crianças com dificuldades de aprendizagem foi amplamente reconhecida. Isso levou ao desenvolvimento de novos métodos de avaliação e intervenção, bem como à disseminação da Psicopedagogia como campo de pesquisa e prática.
A partir da década de 1980, a Psicopedagogia se voltou para a diversidade de aprendizagem e a inclusão de alunos com necessidades especiais. Isso marcou uma mudança significativa em direção a uma abordagem centrada no aluno, que reconhece as diferenças individuais e adapta as estratégias de ensino de acordo com as necessidades específicas de cada estudante.
Nas últimas décadas, a Psicopedagogia continuou a se expandir e a se adaptar às mudanças na sociedade e na educação. Uma mudança importante foi o reconhecimento da importância da detecção precoce de dificuldades de aprendizagem em crianças, permitindo intervenções mais eficazes. A Psicopedagogia se tornou uma ferramenta valiosa para ajudar a identificar as causas subjacentes dos desafios de aprendizagem e desenvolver estratégias personalizadas para atender às necessidades de cada aluno.
Além disso, a Psicopedagogia se voltou para a promoção de uma educação mais inclusiva. Isso envolve o apoio a alunos com diversas necessidades, incluindo aqueles com deficiências sensoriais, físicas ou cognitivas. Os profissionais de Psicopedagogia desempenham um papel essencial na adaptação de abordagens pedagógicas e na criação de ambientes de aprendizagem acessíveis a todos.
A crescente conscientização sobre as diferenças individuais e a diversidade de aprendizagem também levou a um enfoque na educação personalizada. A Psicopedagogia trabalha em colaboração com outros profissionais da educação para desenvolver planos de ensino que se ajustem às necessidades específicas de cada aluno, reconhecendo que não existe uma abordagem única para todos.
Além disso, a tecnologia desempenhou um papel significativo na evolução da Psicopedagogia. O uso de recursos tecnológicos, como softwares educacionais e ferramentas de comunicação assistiva, tem permitido uma abordagem mais eficaz no apoio à aprendizagem de indivíduos com dificuldades.
E é claro que a continuação da pesquisa e prática na Psicopedagogia continuará a moldar seu desenvolvimento e aprimorar sua capacidade de atender às necessidades de aprendizagem de uma sociedade em constante evolução.
O termo surdez designa toda alteração da percepção dos sons qualquer que seja o grau. É surdo aquele que por ela é atingido. Acompanhe as definições abaixo:
Surdez: elevação do limiar de percepção dos sons. Concerne ao ouvido.
Surdo: indivíduo que tem uma acuidade auditiva diminuindo qualquer que seja o grau já definido.
Deficiência Auditiva: problema sensorial auditivo da percepção das formas acústicas. Ela pode existir sem que haja surdez. Ela situa o indivíduo em relação à mensagem. Concerne à audição.
Mau-ouvinte: indivíduo que percebe a fala por via auditiva, mas que não tem uma acuidade suficiente para apreender corretamente sua forma. Isto concerne à percepção da fala, frequentemente ligada a uma deficiência da audição em um surdo.
Cofose: surdez praticamente total, não permitindo a percepção de nenhuma forma sonora, mesmo com uma amplificação. Ela é realmente excepcional na criança, para não dizer inexistente.
Denomina-se deficiência auditiva a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, sendo considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum, e, parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva.
A deficiência auditiva pode ser classificada como:
Sensorioneural (neurossensorial): ocorre quando há uma lesão no ouvido interno, impedindo que essas células levem o estímulo do som do ouvido interno até o cérebro. Nesse tipo de perda auditiva, o paciente apresenta dificuldade de processar a informação sonora. O que acontece é que os sons vibram dentro da primeira parte do ouvido e, quando chegam à cóclea, os estímulos não são transmitidos ao cérebro. Essa surdez costuma ser a mais difícil de ser tratada, pois envolve perda permanente de células neuronais.
Condutiva: é como tentar entender alguém que fala muito baixo, ou está muito longe. Nesse caso, o som nem chega ao ouvido interno. Esse é o tipo mais comum de deficiência auditiva, que pode ser temporária ou permanente. As doenças infecciosas ou o acúmulo de cera são as principais causas da surdez por condução temporária. Entretanto, quando há um bom diagnóstico do problema e um tratamento adequado, o paciente tem grandes chances de recuperar a audição por completo, uma vez que a causa seja cessada.
Mista: é a combinação de duas lesões, como se as duas condições que citamos ocorressem simultaneamente. As principais causas desse tipo de problema são medicamentos, infecções no ouvido, perfurações do tímpano e muitas outras, basicamente as mesmas relacionadas à perda neurossensorial e por condução. É por isso que, muitas vezes, pode ser um pouco mais difícil identificar a raiz do problema.
Central: Por envolver todo o processamento, interpretação dos sons e a capacidade mental do paciente, esse é o caso mais complexo de perda auditiva, já que pode ser que a causa do problema não esteja propriamente no ouvido ou em uma de suas estruturas. As dificuldades se associam, além do déficit auditivo, a outras habilidades intelectuais que permitem saber diferenciar os tipos de sons e o que eles representam no cotidiano das pessoas. Devido à amplitude do problema, as causas podem ser as mais variadas possíveis e o tratamento a ser aplicado, mais uma vez, varia de acordo com a raiz da perda de audição.
O grau e o tipo da perda de audição, assim como a idade em que esta ocorreu, vão determinar importantes diferenças em relação ao tipo de atendimento que o aluno irá receber. Do ponto de vista educacional e com base na classificação do Bureau Internacional d’Audiophonologie (BIAP), e na Portaria Interministerial nº 186 de 10/03/78, considera-se:
Parcialmente Surdo: DA Leve (20 a 40 dB). São pessoas consideradas desatentas e distraídas. Por não perceberem todos os sons da palavra principalmente à voz fraca e distante, olha sempre para o rosto de quem está falando. Costumam pedir para repetir as informações. Essas pessoas conseguem adquirir linguagem naturalmente. Em geral, chegam à escola, podendo concluir os estudos sem demonstrar sua deficiência. Alguns demoram um pouco mais para falar corretamente, ou falam trocando os fonemas. Outras falam bem, mas quando começam o aprendizado da leitura e escrita, fazem confusão entre as letras que têm sons semelhantes, trocando-as. O atendimento médico indicado é o tratamento clínico ou cirúrgico. Se houver dificuldades articulatórias, essas pessoas devem ser atendidas por uma fonoaudióloga.
Parcialmente Surdo: DA Média ou Moderada (40 a 70 dB). Para as pessoas compreenderem a fala, é necessário uma voz forte, principalmente em ambientes ruidosos. Apresentam atraso de linguagem e alterações articulatórias. As dificuldades na compreensão da fala são mais notadas quando as frases são mais complexas, envolvem expressões abstratas e aparecem artigos, pronomes, conjunções, etc. Observa-se, também, dificuldades em compreensão de terminações verbais e as concordâncias de gênero e de número do substantivo e adjetivo. Geralmente, essas pessoas precisam de apoio visual para o atendimento da mensagem. Diante disso, os atendimentos indicados são clínico, cirúrgico, fonoaudiólogo e pedagógico especializado. Sugere-se, adicionalmente, a frequência à escola regular com acompanhamento e suporte anterior de atendimento especializado e de prótese individual.
Surdo: DA Severa (71 a 90 dB). As pessoas só percebem a voz muito forte e alguns ruídos do ambiente familiar. Decorrente disso, a compreensão verbal depende de apoio visual e da observação do contexto em que se desenvolve a comunicação. A linguagem só é adquirida no seu próprio ambiente com orientação. Nesse caso, recomenda-se o uso de prótese individual. Além disso, o atendimento indicado é a escola ou classe especializada, para que a linguagem básica de compreensão e de expressão sejam adquiridas. A alfabetização pode ser realizada antes de ingressar em classe comum, onde devem permanecer com atendimento especializado paralelo.
Surdo: DA Profunda (+ de 90 dB). O fato de não possuírem informações auditivas impede as pessoas de identificarem a voz humana. Não adquirem linguagem naturalmente no ambiente familiar e não adquirem a fala para se comunicarem, devido à ausência de modelo. Aconselha-se o uso de prótese individual.
Baseado em concepções sociológicas, fisiológicas e políticas, surgiu, no final da década de 70, a Proposta Bilíngue de Educação do Surdo.
O movimento de reconhecimento da Cultura, Comunidade e Identidade dos surdos, além de afirmar a sua autenticidade, através de trabalhos científicos, movimentos surdos de protesto e culturais, conseguiu mobilizar alguns responsáveis pela educação dos surdos, para a reformulação da situação da educação do surdo.
A nova proposta de trabalho recebeu o nome de bilinguismo. Aqui, no Brasil, seguindo uma tendência mundial, o Bilinguismo começou a ser estudado a partir da década de oitenta e implantada nas escolas na década de 90.
Quando se fala de bilinguismo do surdo, refere-se à língua oral da comunidade do ouvinte (no caso do Brasil, o português) e a língua de sinais da comunidade surda (a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS).
A implantação de um programa bilíngue para indivíduos surdos tendo a Língua de Sinais como a primeira língua e uma língua oral como segunda língua, não é simples.
A abordagem bilíngue pretende que ambas as línguas, a gestual (LIBRAS) e a oral (português), sejam ensinadas e usadas em diglossia (situação linguística em que, numa sociedade, duas línguas ou registos linguísticos funcionalmente diferentes coexistem, sendo que o uso de um ou de outro depende da situação comunicativa), sem que uma interfira e/ou prejudique a outra.
O problema se concentra no fato de qualquer proposta de bilinguismo só pode ser considerada como tal se, e apenas se, no ambiente escolar, as línguas forem respeitadas em sua integridade, isto é, onde não haja interferência e uso de processo de comunicação como bimodalismo ou português sinalizado, onde o plano morfológico é o da Língua de Sinais e a estrutura da frase da Língua Portuguesa.
Isto exigiria, em princípio, que os profissionais dominassem a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e que o surdo viesse a dominar a Língua Portuguesa, como segunda língua, ou seja, adquirisse a Língua de Sinais como sua primeira língua e, depois, viesse a aprender a língua Portuguesa. E não é isso o que acontece no Brasil moderno!
Evidentemente, tem-se consciência que ainda não é possível implantar uma educação com bilinguismo em toda sua extensão, pois se tem no Brasil um número muito reduzido de profissionais que dominam a Língua Brasileira de Sinais.
Vale salientar, que as Línguas de Sinais só passaram a ser estudadas e valorizadas enquanto sistema linguístico verdadeiro (próprio da comunidade surda), “recentemente” (apenas duas décadas).
Há, ainda, muita luta pela frente!
Quando se fala em comunicação gestual, é imperioso fazer-se distinção entre os diferentes sistemas de comunicação gestual existentes. Tem-se:
Língua de Sinais: sistemas de sinais independentes das línguas faladas. Contrariamente a uma ideia pré-concebida, não existe uma Língua de Sinais utilizada e compreendida universalmente. As Línguas de Sinais praticadas nos diferentes países diferem umas das outras. Além disso, existem também, como para as línguas orais, dialetos ou variabilidade regional dos sinais.
Linguagens Sinalizadas: utilizam um léxico gestual, emprestando a organização gramatical das linguagens orais correspondentes.
Sistemas de Auxílio à Leitura Orofacial: dentro de sistemas de sinais como a LIBRAS e o Português Sinalizado, os gestos correspondem a conceitos próprios ou palavras da língua oral. Nos sistemas de auxílio à leitura labial, os gestos não têm razão de existir sem a fala. Eles têm por objetivo facilitar a leitura labial. Estes sistemas são inscritos dentro de uma perspectiva oralista.
Alfabeto Datilológico (ou alfabeto manual): é um sistema gestual em que cada letra do alfabeto escrito corresponde a uma configuração particular da mão e dos dedos. Esse sistema utiliza, na realidade, uma escrita no espaço. Quando se quer “escrever” uma palavra, a mão realiza as configurações que correspondem às letras das palavras de forma sequencial.
A inclusão de pessoas de necessidades educativas especiais nas escolas regulares já é uma realidade, os pais destas crianças ou adolescentes, tendo o respaldo da Lei de Diretrizes e Bases e a Carta de Salamanca, têm procurado as escolas regulares para que seus filhos frequentem estas escolas.
A Educação Inclusiva é reflexo das necessidades sócio histórica e educacional da sociedade na busca de melhorias das dificuldades acerca da estigmatização; do desenvolvimento das potencialidades dos alunos; do convívio social; da solidariedade e do exercício da cidadania.
O trabalho psicopedagógico junto aos professores é muito importante visto que este projeto depende deles. Esta inclusão só ocorrerá se o professor estiver empenhado neste projeto, buscando realmente que estas pessoas com necessidades especiais sejam incluídas.
As causas do não aprender podem ser diversas. Em vista dessa complexidade, é necessário reconhecer que não é tarefa fácil para os educadores compreenderem essa pluricausalidade de imediato.
Portanto, torna-se comum constatar que as escolas rotulam e condenam esse grupo de alunos à repetência, uma ou mais vezes, como também os colocam na berlinda, com adjetivos de alunos “sem solução” e vítimas de uma desigualdade social.
A prática Psicopedagógica deve considerar o sujeito como um ser global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social e pedagógico. Vamos entender a participação de cada aspecto na compreensão da dificuldade de aprendizagem, levando em consideração alunos com deficiência auditiva:
O aspecto orgânico diz respeito à construção biológica do sujeito, portanto, a dificuldade de aprender de causa orgânica estaria relacionada ao corpo. Exemplo: Um aluno com deficiência auditiva pode ter um problema orgânico como uma infecção recorrente no ouvido médio que afeta sua audição. Nesse caso, a dificuldade de aprendizagem está relacionada à condição orgânica que interfere na capacidade do aluno de receber informações auditivas de maneira clara.
O aspecto cognitivo está relacionado ao funcionamento das estruturas cognitivas. Nesse caso, o problema de aprendizagem residiria nas estruturas do pensamento do sujeito. Imagine, aqui, um aluno que tem dificuldades em entender coisas que são complicadas e não podem ser vistas ou tocadas diretamente. Por exemplo, coisas como ideias filosóficas, que são pensamentos profundos sobre a vida e o mundo. A dificuldade desse aluno em aprender está relacionada ao fato de que ele não pode ouvir as palavras ou explicações sobre essas ideias, o que torna difícil para ele entender. Ele precisa de formas visuais ou táteis (como sinais de mão ou imagens) para traduzir essas ideias complexas em algo que ele possa compreender melhor. Portanto, a dificuldade de aprendizagem está relacionada às limitações do aluno em processar informações sem essa tradução especial.
O aspecto afetivo diz respeito à afetividade do sujeito e de sua relação com o aprender, com o desejo de aprender, pois o indivíduo pode não conseguir estabelecer um vínculo positivo com a aprendizagem. Exemplo: Um aluno com deficiência auditiva pode desenvolver uma aversão à escola devido à falta de compreensão e aceitação por parte dos colegas. Isso pode levar a uma falta de motivação para aprender.
O aspecto social refere-se à relação do sujeito com a família, com a sociedade, seu contexto social e cultural. E, portanto, um aluno pode não aprender porque apresenta privação cultural em relação ao contexto escolar. Exemplo: Um aluno surdo pode vir de uma família que não possui conhecimento ou recursos para apoiar sua comunicação em língua de sinais ou aquisição de língua falada. Isso pode criar uma defasagem social e cultural em relação aos colegas ou ao ambiente escolar. A dificuldade de aprendizagem está relacionada à falta de experiências e recursos sociais que podem enriquecer a aprendizagem.
Por último, o aspecto pedagógico, que está relacionado à forma como a escola organiza o seu trabalho, ou seja, o método, a avaliação, os conteúdos, a forma de ministrar a aula, entre outros. Exemplo: A escola em que um aluno surdo está matriculado pode não oferecer recursos pedagógicos adequados, como intérpretes de língua de sinais ou materiais adaptados. Nesse caso, a dificuldade de aprendizagem está relacionada à falta de suporte pedagógico apropriado que permitiria ao aluno acessar o currículo de maneira eficaz.
A aprendizagem, logo, é a constante interação do sujeito com o meio. Podemos dizer também que é constante interação de todos esses aspectos apresentados. Em contrapartida, a dificuldade de aprendizagem é o não funcionamento ou o funcionamento insatisfatório de um dos aspectos apresentados, ou ainda, de uma relação inadequada entre eles.
Ao avaliarmos os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, vamos encontrar diversas categorias.
Haverá aqueles que necessitam da intervenção psicológica ou Psicopedagógica, ou até mesmo aqueles que o problema pode ser resolvido dentro do contexto escolar, por meio de programas individualizados de ensino e práticas pedagógicas diferenciadas.
Dessa forma, a avaliação torna-se um elemento muito importante para traçarmos o caminho a seguir. Avaliar não para classificar, para rotular, mas para promover alternativas.
Vamos refletir um pouco sobre como agimos diante das dificuldades de aprendizagem de nossos alunos. É comum prestarmos mais atenção às dificuldades, pois elas saltam aos olhos com muito mais evidências que as potencialidades.
Podemos começar a pensar sobre a dificuldade de aprendizagem pelos acertos dos alunos.
Vou fornecer exemplos de como um profissional de Psicopedagogia pode intervir para ajudar alunos com deficiência auditiva a enfrentar os diversos aspectos que podem contribuir para suas dificuldades de aprendizagem:
Aspecto Orgânico: O profissional de Psicopedagogia pode trabalhar em colaboração com um otorrinolaringologista para avaliar a saúde auditiva do aluno. Caso sejam identificados problemas orgânicos, como infecções recorrentes no ouvido médio, é importante garantir que o tratamento adequado seja administrado. Exemplo: Um aluno com deficiência auditiva possui perda auditiva sensorioneural, que é causada por danos nas células ciliadas do ouvido interno. O profissional de Psicopedagogia pode colaborar com um audiologista para avaliar o grau e a natureza da perda auditiva. Em seguida, pode auxiliar o aluno a adquirir e usar aparelhos auditivos ou implantes cocleares, bem como fornecer treinamento para maximizar o benefício desses dispositivos. Além disso, o Psicopedagogo pode ensinar estratégias de leitura labial e comunicação visual que ajudem o aluno a compreender melhor a fala.
Aspecto Cognitivo: O profissional de Psicopedagogia pode realizar avaliações cognitivas para identificar quais áreas específicas do pensamento do aluno podem estar afetando sua aprendizagem. Com base nessa avaliação, estratégias de ensino podem ser adaptadas para atender às necessidades individuais do aluno. Exemplo: Um aluno surdo pode ter dificuldade em compreender conceitos abstratos, como os princípios da física. O profissional de Psicopedagogia pode desenvolver atividades práticas que permitam ao aluno experimentar esses princípios diretamente, em vez de depender apenas da explicação verbal. Isso pode envolver experimentos práticos, simulações visuais ou o uso de modelos tridimensionais para tornar esses conceitos mais concretos e tangíveis.
Aspecto Afetivo: O profissional de Psicopedagogia pode desenvolver estratégias para melhorar o vínculo do aluno com a aprendizagem. Exemplo: Um aluno com deficiência auditiva pode sentir-se isolado e desmotivado na escola devido à falta de interação social e compreensão de seus colegas. O Psicopedagogo pode trabalhar com o aluno para desenvolver habilidades sociais e de comunicação que o ajudem a se relacionar melhor com os colegas. Além disso, pode criar oportunidades para o aluno compartilhar sua cultura surda com os outros, promovendo um ambiente de aceitação e valorização. Outra ideia bem bacana é realizar atividades que simulem a experiência de alguém com deficiência auditiva pode ajudar os colegas a compreenderem melhor os desafios que o aluno enfrenta. Isso pode incluir jogos ou atividades em que todos usem tampões nos ouvidos para experimentar a comunicação sem a audição. Essa é uma atividade de sensibilização muito poderosa na prática docente.
Aspecto Social: O profissional de Psicopedagogia pode colaborar com a família e a escola para promover uma compreensão mais profunda da cultura surda e das necessidades sociais do aluno. Exemplo: Um aluno surdo que pertence a uma comunidade de língua de sinais pode enfrentar dificuldades de comunicação com colegas e professores que não conhecem a língua de sinais. O Psicopedagogo pode fornecer treinamento em língua de sinais para colegas e educadores, promovendo uma compreensão mútua. Além disso, o profissional pode facilitar grupos de apoio para pais, ajudando-os a entender a cultura surda e a apoiar seu filho em sua jornada educacional e social.
Aspecto Pedagógico: O profissional de Psicopedagogia pode trabalhar em estreita colaboração com os educadores para desenvolver estratégias pedagógicas adaptadas às necessidades do aluno. Exemplo: A escola de um aluno surdo pode não ter intérpretes de língua de sinais disponíveis durante as aulas. O Psicopedagogo pode colaborar com a escola para garantir que o aluno tenha acesso a intérpretes ou a outros recursos de comunicação, como legendas em vídeo ou transcrições escritas. Além disso, o profissional pode treinar educadores para adaptar suas estratégias de ensino, usando recursos visuais e táteis, para atender às necessidades do aluno com deficiência auditiva.
A função do psicopedagogo é o de ressignificar o olhar tradicional para um olhar clínico, que não é um olhar que acontece só no meio médico, no espaço de uma clínica, e sim é decorrente de um método clínico de observação, experiência diária e convivência. Estamos falando sobre a realidade.
Portanto, o olhar clínico, em psicopedagogia, é um olhar que tem a intenção de perceber um sujeito que aprende, de forma inteira, em relação com os outros sujeitos, com a cultura, com a história, com os objetos de aprendizagem e com as normas estabelecidas no contexto em que vive.
A prática do psicopedagogo diante às dificuldades de aprendizagem do aluno (aprendente) ouvinte ou surdo, inicia-se com o diagnóstico podendo ser trabalhada por meio de diversas formas de interpretação da realidade, através das teorias, extraídas da mesma realidade possibilitando distintas leituras e intervenções, que envolve o conhecimento dos obstáculos que podem surgir no processo do aprender, vinculados aos sintomas da dificuldade de aprendizagem.
Para isso, a percepção por parte do psicopedagogo nos diferentes aspectos do cotidiano do aluno (psicológico, familiar e escolar) é de fundamental importância.
A atividade Psicopedagógica visa discutir aspectos fundamentais que irão possibilitar o desenvolvimento de programas para o tratamento próximo da real necessidade do indivíduo.
A reeducação Psicopedagógica inicia-se a partir do primeiro contato com o motivo da consulta e para auxiliar no diagnóstico são necessárias algumas técnicas como:
- anamnese (entrevista com os pais);
- análise do material escolar desde a pré-escola;
- contato com a escola (direto ou através de questionário);
- observação do desempenho em situação de aprendizagem;
- avaliação Psicopedagógica com o cliente;
- diagnóstico com entrevista devolutiva (cliente/pais);
- orientação terapêutica de acordo com os sintomas, transtornos da aprendizagem, patologias afetivo-emocionais.
A tarefa Psicopedagógica tem enquadramento próprio que possibilita solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos dos sintomas, para logo depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos.
Ainda na primeira consulta de atendimento (pais), poderá solicitar exames, se necessário (psicológico, neurológico, oftalmológico, audiométrico, etc.) do aluno.
Após o diagnóstico, o psicopedagogo procura detectar as causas pelas quais o sujeito não aprende, ou melhor, onde se localiza sua inadaptação à aprendizagem, e levá-lo a descobrir sua própria modalidade de aprendizagem, ou seja, seu modo particular de se relacionar com a aprendizagem escolar.
A esse profissional também compete participar de ações preventivas, no âmbito do trabalho institucional, na medida em que são detectados os fatores causadores das inadaptações de aprendizagem.
Vale ressaltar que um distúrbio de aprendizagem nem sempre está acompanhado de uma incapacidade intelectual. E embora o psicopedagogo parta da observação das dificuldades específicas da leitura e da escrita, ou mesmo das habilidades envolvidas nesse processo (pensamento lógico-matemático e desenvolvimento psicomotor), precisa estar atento, também, aos aspectos gerais que interferem na construção das modalidades de cada um.
Para aprender é preciso que o físico e orgânico (saúde) estejam íntegros. E não estamos falando apenas da saúde dos ouvidos, mas de todo o corpo.
A situação de enfermidade de qualquer natureza limita a adaptação sócio emocional do sujeito, bem como sua independência e autonomia. Nem sempre as dificuldades aparecem no início da vida infantil, do processo de aprendizagem ou quando as soletrações são mais em nível de hábitos cotidianos. Podem surgir quando as solicitações passam a envolver o raciocínio, a capacidade para a síntese e outras mais complexas.
Estas, somadas às coordenações viso motora, memória e a atenção, são adquiridas ao longo do processo maturacional, dentro de um ritmo próprio de cada indivíduo. Quando tais fatores deixam de ser considerados, a aprendizagem fica comprometida, podendo causar, futuramente, a inadaptação ao processo de aprendizagem escolar.
A aprendizagem informal (socialização, interação consigo e com o outro) antecede a formal, para depois caminhar paralelamente a esta. Isto significa que, uma vez compreendida a aprendizagem informal como possibilidade para a estimulação da autonomia, da independência, da tolerância, da flexibilidade, entre outros, assegura-se mais facilmente a aprendizagem formal e a assimilação dos conteúdos simbólicos nela contidos.
É papel do psicopedagogo também buscar as articulações necessárias entre a família e o aprendiz, intervindo como mediador de possíveis conflitos, investigando, conhecendo e desvelando qual é a posição do aprendiz em sua família, em sua escola e em seu contexto social.
Entendemos que embora uma criança esteja comprometida sob pontos de vista orgânico ou emocional, a forma como seu núcleo familiar entende, aceita, não aceita, age ou reage, será determinante na leitura e no prognóstico da situação.
Os mitos, os sonhos e os desejos que habitam e transitam naquele grupo familiar são materiais indispensáveis para compreender a dimensão da situação e das possibilidades de intervir por meio de uma ação Psicopedagógica.
Como estrutura básica, a família tem papel determinante no desempenho do papel de aprendiz de uma criança. A
A família é a estrutura social básica e o primeiro núcleo da construção de um sujeito.
A linguagem é a base do desenvolvimento cognitivo e social, e a interação precoce com os pais é crucial para o desenvolvimento da linguagem. Para uma criança surda, isso pode envolver o uso de língua de sinais, comunicação visual e gestual. Os pais desempenham um papel vital em proporcionar um ambiente rico em linguagem, estimulando a comunicação desde cedo.
Além disso, a família desempenha um papel importante na construção da identidade da criança surda. Ao valorizar a cultura e a língua da comunidade surda, os pais ajudam a criança a desenvolver uma identidade positiva como surda. Isso é essencial para que a criança tenha autoestima e confiança em suas habilidades.
Um terceiro ponto é que a família também desempenha um papel crucial na defesa dos direitos e necessidades da criança surda no sistema educacional. Os pais podem ser defensores ativos na escola, garantindo que a criança tenha acesso a recursos, como intérpretes de língua de sinais ou tecnologia assistiva, e que sua educação seja adaptada às suas necessidades individuais.
Finalmente, os pais desempenham um papel importante como modelos de comunicação e comportamento. Quando os pais mostram apoio, aceitação e respeito pela identidade surda de seus filhos, eles ajudam a criar um ambiente familiar positivo e inclusivo.
Em resumo, o papel da família na educação da criança surda é multifacetado e de extrema importância. Os pais têm a responsabilidade de proporcionar um ambiente de aprendizado rico em linguagem, promover uma identidade positiva como surdo e serem defensores ativos na educação de seus filhos.
A parceria entre a família e os profissionais da educação, como o psicopedagogo, é essencial para garantir que a criança surda tenha todas as oportunidades para um desenvolvimento bem-sucedido e uma vida plena.
A psicopedagogia não se restringe apenas ao estudo das dificuldades e dos distúrbios de aprendizagem, mas à aprendizagem de modo geral.
Como tal, sua prática não precisa e nem deve ser limitada a um sistema paralelo de educação e, sim fazer parte da educação como um todo, intervindo na ação interdisciplinar do aluno, analisando a aprendizagem em todo seu contexto escolar, familiar, afetivo, cognitivo, e biológico, (como no caso dos alunos surdos), evitando que o problema de aprendizagem leve a um fracasso escolar.
O trabalho do psicopedagogo é fundamental na orientação dos profissionais da escola para ‘ressignificar’ a práxis dos mesmos, através da ajuda e ampliação das observações sobre a realidade do surdo, contribuindo para a superação das dificuldades de aprendizagem apresentadas.
Esperamos que tenha gostado deste curso online profissionalizante de Intervenção Psicopedagógica e Surdez.
Agora você pode solicitar todos os certificados de conclusão deste curso. Desejamos a você todo o sucesso do mundo. Até o próximo curso! 🙂
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